segunda-feira, 18 de julho de 2011

Caio Fernando Abreu

 
Procuro sinais de algum amor teu.
Vestígios de noites passadas.
Tu não me vês, estou incógnita a te observar. 
Como sempre estive, olhando pelas janelas,
de longe, coração apertado. 
Nós poderíamos ser amigos e trocar confidências.
Assistiríamos a filmes, taça de vinho nas mãos, 
e tu me detalharias as tuas paixões e desatinos. 
Nós poderíamos ser amantes que bebem champanhe pela manhã aos beijos num hotel em Paris. 
Caminharíamos pela beira do Sena, e eu te olharia atenta, 
numa tentativa indisfarçável de gravar o momento e guardá-lo comigo até o fim dos meus dias.
Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de surpresas boas. Ou não. Difícil saber. 
Bato minhas asas em retirada.
Tu dormes, e nos teus sonhos mais secretos, não posso entrar. Embora queira.
À distância, permaneço te contemplando.
E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa,
nosso encontro pode acontecer inteiro. 
Porque tu és o único que habita a minha solidão.

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